SETEMBRO AMARELO: mês da luta contra o suicídio!

PÓS-MODERNIDADE: ODE AO DESESPERO HUMANO

 

Prof. Lucas Guimarães *

Fui apresentado ao livro de Marshall Berman, intitulado “Tudo o que é sólido se desmanchar no ar” (frase de Karl Marx no “Manifesto Comunista”). Seu título remeteu-me à filosofia da pós-modernidade.

A modernidade tinha como bandeira a esperança (e a luta) pela mudança histórica total. Essa era sua força motora. À medida que a suspeita a esse “sonho” começa a perfazer a história, o pós-modernismo começa a fincar suas raízes. O “desencanto” é o elo entre a modernidade e pós-modernidade. Como sonhar o impossível?

O mundo parece nem mesmo sofrer a possível transformação que tanto Karl Marx apregoou. Desilusão e desencanto fazem parte da linguagem poética do mundo pós-moderno, que mais é uma ode ao desespero humano. As canções dizem muito em momentos de ausência de sentido. Dizem por ser desabafo! A pós-modernidade é o desabafo de um mundo sem futuro. Há séculos pensavam: amanhã as coisas serão melhores. E descobrimos: o amanhã é sempre um eterno ontem. Assim, teorizamos que a pós-modernidade acredita ferrenhamente que toda revolução é impossível. Ela é a crítica mais atroz às possibilidades de fazer essa revolução sonhada dentro das regras do Iluminismo ocidental. Essa impossibilidade deve-se primeiramente devido a um pessimismo antropológico. O ser humano é aquele que não conseguiu realizar a revolução pendente e, segundamente, vislumbram a impossibilidade de que essa revolução não seja mais uma repressora dos desejos. O sonho foi substituído pelo desejo! Em terceiro lugar, a pós-modernidade descobriu que a marca da modernidade era àquela da sordidez do real.

O pós-modernismo chega como o desmascarador da realidade moderna. Ele veio para tirar do modernismo suas palavras “sagradas”. Para realizar tal tarefa, o pós-modernismo vale-se de duplo recurso. O primeiro é o uso destrutivo das palavras. Se as palavras na modernidade mascaravam, na pós-modernidade elas desmascaram. Isto é dizer que para atingir seu objetivo o pós-modernismo desmistificou as palavras e as tomou como instrumento para transmitir a insatisfação, para repudiar através da grosseria dos “palavrões” e da “imoralidade” das palavras, que não mais são poesias, mas um extremo escândalo. O outro recurso é o que chamamos de “pequeno prazer”. É ele que vem preencher o nada existencial. O ‘pequeno prazer’ é a apropriação da não pretensão. É a filosofia do Carpe diem: a vida é tão dura e tão insuportável que vale mais morrer “vivendo bem” do que preservar a vida privando-se de viver bem. Esclarecemos: prefere-se o prazer mortal à vida sem prazer; morrer no êxtase, do que viver privado dele. Na ilusão total, o que resta é apenas o contentamento egocêntrico da realização pessoal de pequenos desejos.

A pós-modernidade não foi somente a destruição de um mito (o mito moderno da revolução), mas a destruição de todos os mitos: o mito do progresso, o mito do amor e da mulher, o mito da diversão, o mito do compromisso ético e o mito da política. O resultado de toda essa destruição é o descompromisso mais absoluto. Não existe partido, nem igreja, nem causa, nem ser humano, nem objetivo histórico com que valha a pena comprometer-se. Como diz González Faus: “Jogam baralho, fazem filhos, vão ao bar”. E assim, do descompromisso mais absoluto, a pós-modernidade passa a solidão mais total: solidão de pais e irmãos, de mestres e de amigos, de deuses e de amantes.

No fim, ficamos com a nostalgia e a saudade de algo no qual já não mais se crê. Vive-se o patético cotidiano, o bonde já se foi pela via e ficamos para trás! E o pior: sem esperança de que outro bonde passe novamente para nos ofertar uma carona rumo à realização. O jeito é acender um cigarro (diga não ao fumo!) e resolver palavras cruzadas ou convidar alguém para jogar dominó. No cúmulo do desespero, ser tão pós-moderno quanto Raul Seixas que falava de estar no apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando à morte chegar (se é que a morte ainda existe e temos dentes na boca!).

Estamos diante de uma geração que agora se descobre de forma irada como uma geração de órfão: não acreditam que são desejados pelos pais, pela sociedade... Que são educados para serem máquinas: sem sonhos, sem regras e sem amor... Nesse status banalizam a vida! Os jovens têm lido o filósofo Friedrich W. Nietzsche. Eles têm lido não como livro de filosofia, mas como livro de autoajuda. Estão em busca do super-humano que vive acima das regras criadas para os conformar à estrutura de uma utopia que caiu com as duas guerras mundiais (e com as particulares!), com o muro de Berlim, com as torres do World Trade Center, com os ditadores, com os democratas, com a ciência e com os pobres que morrem clamando pelas migalhas que caem das mesas fartas dos poderosos desse século. Mesas cujo cardápio tem por ingredientes vidas, sonhos, esperanças e sangue humano. Tudo degustado pela fome de acúmulo de riqueza e poder. Atentem: os jovens são o reflexo de uma realidade. Suas reações, somente revelam algo mais crônico!

Tudo que é sólido se desmancha no ar. Sou levado a acreditar que “tudo” aqui é relativo, pois acredito no projeto de Deus para a humanidade. Sempre que encontro um irmão para sonharmos junto e sentirmos a força marcante do abraço, creio que acontece a ressurreição do corpo, da alma, dos sonhos, da vida e do ser sociedade. Aqui se encontra uma ode ao amor, à vida e à humanização. Deus nos livre da desilusão!

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O prof. Lucas Guimarães atua como docente na E. E. Margarida Pinho Rodrigues e tem mestrado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UMP).

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